O saber e o sabor da literatura cor-de-rosa : a leitura dos romances das séries Sabrina, Julia e Bianca

Degree
Doutorado em Teorias da Literatura
University
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Publication year
2014
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Here's the abstract:

Esta pesquisa situa-se no campo da Teoria da Literatura, com implicações teóricas advindas da Sociologia da Leitura, Sociologia da Literatura e dos Estudos Culturais. Nessa perspectiva, analisam-se os atrativos da literatura cor-de-rosa, em especial os Romances com coração das séries Sabrina, Julia e Bianca, da década de 1980, enfatizando a preferência pela leitura por mulheres, através de obras não canonizadas, e sua importância na formação leitora. Tal escolha se deu porque a década mencionada representa o auge das séries Sabrina, Julia e Bianca, tendo as mulheres como suas principais leitoras; por reconhecer que esse tipo de literatura no referido contexto ainda não recebeu a devida atenção e análise; e por acreditar que, mesmo não sendo legitimada pela crítica literária, pela escola e pelo meio acadêmico, a literatura cor-de-rosa, de cunho sentimentalista, estimula o gosto juvenil pela leitura e desenvolve comportamentos leitores; devendo, assim, fazer parte das leituras literárias no âmbito escolar e universitário, num processo de mediação e discussão teórica, respectivamente. Para tanto, faz-se necessário delinear as imagens femininas a partir de algumas categorias traçadas com base no estudo dos romances dessas séries, tais como: perfil físico e psicológico masculino e feminino; amor versus ódio; triângulo amoroso; cenário paradisíaco ou propício ao amor e linguagem afetiva. Além disso, torna-se essencial constatar se aspectos da leitura sensorial e emocional (identificação com capas, títulos, enredos, personagens e lugares) fomentam a leitura, bem como se podem ser considerados como um dos expedientes para a construção do gosto literário. A metodologia utilizada tem como suporte uma revisão de literatura e a pesquisa de cunho qualitativo, no horizonte da investigação etnometodológica. Quem lê um romance cor-de-rosa tem tanta história para contar quanto quem lê qualquer outro gênero literário. A prática da leitura desse tipo de romance torna-se uma possibilidade de interlocução, debate e formação de opiniões, num processo de aprofundamento de questões comportamentais, sociais, culturais e históricas, em tempo e espaço distintos.

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A literatura cor-de-rosa apresenta uma estrutura baseada nos contos de fada: a mocinha se apaixona por um homem lindo e rico; mas, antes de se casar com ele e ser feliz para sempre, enfrenta muitos obstáculos. Praticamente, a origem desse tipo de literatura está vinculada ao surgimento do folhetim (roman-feuilleton), a partir dos romances da inglesa Jane Austen (1775-1817), considerada a principal representante da literatura feminina do século XIX. (17)

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No segundo capítulo, Casaram-se e foram felizes para sempre: uma viagem ao universo dos romances cor-de-rosa, o foco da análise será direcionado aos romances cor-de-rosa, em especial os da década de 1980 das séries Sabrina, Julia e Bianca. O propósito principal desse capítulo é caracterizar o gênero sentimental sob vários ângulos: origem, objetivos e estrutura, delineamento das imagens femininas dos Romances com coração, a partir de algumas categorias: capas; funções e perfil do(a) herói/heroína; enredo; cenário; cenas e linguagem.

No terceiro capítulo, Revirando o baú: o espaço dos Romances com coração na formação leitora, será apresentada a pesquisa de campo, a qual se refere aos percursos de leitura de vinte e duas mulheres, ex/leitoras dos romances das séries Sabrina, Julia e Bianca, a fim de perceber como práticas afins de leitura feminina constituem diferentes leitoras, bem como saber de que modo e por que as séries Sabrina, Julia e Bianca fizeram/fazem parte de suas leituras e qual influência os romances dessas coleções exerceram/exercem em sua vida pessoal/profissional. (21)

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Foram lidos e fichados 15 (quinze) romances das séries Sabrina, Julia e Bianca, levando em consideração as seguintes categorias: mesma quantidade de exemplares de cada série, sendo 5 (cinco) de cada; primeiro romance lançado de cada série; publicações editadas, principalmente, na década do auge dos romances em pauta, isto é, em 1980. Além desses, foram analisados mais de 30 (trinta) capas e segunda, terceira e quarta capas das supracitadas séries. (22)

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De origem inglesa, editados em Londres pela Mills & Boon, as séries ou coleções Sabrina, Julia e Bianca são textos traduzidos para língua portuguesa pela Editora Abril Cultural, ao final da década de 1970. O auge dessas séries se deu em 1980, com base no slogan Romances com coração, “símbolo das mais emocionantes histórias de amor”, consoante atesta a epígrafe, referente à quarta capa da série Bianca. Esse tipo de literatura também é conhecido como romances de banca ou de bolso, por serem vendidos em bancas de revistas a preços acessíveis. (65)

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Neste subitem, o objetivo principal é apresentar a linguagem verbo-visual das capas dos Romances com coração, principalmente as editadas no período do auge das séries Sabrina, Julia e Bianca (em 1980), e suas estratégias para atrair a atenção das leitoras, antes mesmo do contato destas com as narrativas. (68-69)

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Na década de 1980, assuntos como relação amorosa e sexo não faziam parte do repertório de conversa entre pais e filhas. Para os padrões de vida dessa época, amor e sexo eram considerados assuntos tabu, ou seja, que deveriam ser evitados, seja porque seriam alvos de opiniões contraditórias ou porque se referiam a uma pauta polêmica, capaz de interferir na moral e nos bons costumes da família e da sociedade. Desse modo, os romances cor-de-rosa serviam como forma de conhecimento, ensino e orientação, numa linguagem suave e tênue. (116)